segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sugestões para atravessar AGOSTO.

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciencia para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mal; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a minima para às negras deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe, ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então, dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de dois mil e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir, dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros angúrios, premunições. Controle remoto na mão e centenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará.
Para atravessar agosto um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem, e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não deem a impressão de serem maiores do que são.
É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos. Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente, não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito, perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco:.


* Eu sei que está por acabar, mas ainda restam os anos seguintes, não?
(Texto adaptado)

domingo, 21 de agosto de 2011

O que eu não sabia.

O que eu não sabia nem poderia saber - em parte porque aos vinte anos a gente pouco sabe além da própria fome, em parte porque não podia, nem posso ou podemos, prever o futuro - é que embora parecesse tarde, era ainda cedo.

domingo, 14 de agosto de 2011

Três letras. Não uma palavra, um homem.


Pai! Me perdoa essa insegurança, é que não sou mais aquela criança que um dia morrendo de medo, nos teus braços você fez segredo. Nos teus passos você foi mais eu!

Eu me lembro bem de quando era apenas uma criança, que tomava mamadeira no seu colo, que adorava ouvir e cantar junto a musica que você fez pra mim, eu era o seu bebê. Foram anos te vendo abrir mão de coisas e momentos por mim. Eu lhe sou grata, creia.
Hoje, eu cresci, e como naturalmente acontece, a mãe virou o porto seguro, a conselheira e também a ouvidoria. Eu sei, não digo o meu amor e afeto constantemente. Faz parte de mim, sou desse jeito. Mas isso não significa que eu não ame, que não sinta.
A gente tem nossas diferenças, sabemos disso. Mas ainda assim, nós nunca brigamos. Arrependo-me de coisas que disse em algumas das nossas conversas, na hora da raiva, a gente ofende e diz o que pensa sem pensar. Adolescente, sempre xingo e faço horrores no pensamento, normal.
Pai, perdão. Perdoa por agir sem pensar, e pensar demais antes de agir. Perdoa por falar na hora errada, e calar diante do que merece minha voz. Perdoa por decepcionar, e não aceitar a decepção. Perdoa. Eu te amo, assim.
Você é meu herói, meu bandido. É muito mais que um amigo, é parte do caminho que eu sigo quase em paz.



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Abstração.

O amor à humanidade é uma abstração através da qual não se ama senão a si mesmo. (Dostoiévski)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Quase.

Um pouco mais de sol eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma:
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama.
Quase o principio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas nunca mais fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas:
E mãos de herói, sem fé, acobardadas.
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

domingo, 7 de agosto de 2011

Prometo fingir.

Sabe, eu decidi. Eu gosto muito de mim e sim, eu também gosto demais de você pra insistir nessa tortura. Porque eu sei, e como sei, o quanto incomoda. Não que eu esteja dizendo que você sente como eu sinto, mas se sente a metade disso, imagino que seja um tanto perturbador pra você, afinal os homens são mesmo exagerados e molengas, ah. Então, a partir daqui, meu interesse por você não vai além de uma sweet amizade. Hahaha. É claro, é mentira. Provavelmente a maior em tempos. Mas eu prometo. Prometo me esforçar intensamente pra fingir que isso é verdade, e eu vou fingir tão bem, que você quase não vai precisar fingir que acredita.