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Há 8 anos
It’s a basic truth of the human condition that everybody lies. The only variable is about what. (House)
Querido diário, eu acho fofo. Muito bonitinho e meigo: escrever no diário. Mas, tenho que admitir. Eu não sou fofa. Acho que sou mais a versão bem feminina do "cabra macho", sabe? (às vezes, parece). Eu nunca (olha que eu tentei), consegui escrever num diário, diariamente, por um período maior que um mês. Não gosto, sei não. Não é pra mim. Eu apenas não tenho essa carência de compartilhar as coisas, sabe? Faço, quando necessário para fins de esclarecimento de dúvidas, ou para o bem da minha já comprometida sanidade mental. Mas são momentos raros, até porque são quase nenhuma as coisas que me deixam à beira de um ataque básico dos nervos. E trato de acabar rápido com as que são perturbadoras em potencial. O máximo que consigo, caro amigo, é escrever assim numa folha limpa de caderno, algum texto que ponha em ordem meus pensamentos momentâneos. Mas só, sem nenhum compromisso ou ordem cronológica. Isso é o que mata, na minha opinião, essa obrigação de "contar" os dias tediosos, e assim reviver o tédio todo outra vez. Porque presumo que seja essa a intenção, relembrar e reviver os momentos. Mas não me vejo obrigada a escrever uma manhã chata, uma tarde desocupada pra chegar na noite inesquecível. Prefiro escrever de uma vez a parte legal, a que merece e deve ser lembrada, é o que faço. Faço, então, metade do trabalho. Isso não me faz metade fofa? Metade sentimental? Metade mocinha de filme americano? Bom, independe. Eu prefiro ser eu, inteira. Perdão, mas não rola o clima entre a gente, meu bom diário. Talvez se mudar seu nome para momentâneo, ou mensal, ou anual, ou ainda, "escreva aqui quando der vontade", esse é perfeito, apesar de grande. Talvez isso melhore essa minha dificuldade de te aceitar todos os dias. Acabo por aqui. Não tão querido diário.
É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar? Se alguém reclama de você, ouça!
Foco no lugar vazio da mesa. A pessoa que não veio. Pior ainda: a que não existe. É ali que fico, sempre, apaixonada, doendo, esperando. O lugar vazio da mesa, da cama, do planeta. Minha sorte é um bilhete desses de raspar só que o segredo não sai com nada. (...) Eu funciono assim, não sei se você já percebeu. Consigo não te amar, e isso significa passar ótimos dias em paz, quando te trato bem, quando te amo. O que sobra em mim, o que eu guardo no peito, é sempre o negativo do que expeli para o mundo. Por isso o e-mail, carinhoso, um jeito de te expulsar mais uma vez, porque é só isso que sei fazer quando o assunto é sentir além de mim. E quando te trato mal, são dias te amando aqui, nos espaços vazios que você jamais preencheria e que são absolutamente você. O mundo todo que não tem você é ainda mais você. E assim me relaciono. (...) Sempre me apaixono quando acaba a paixão. Sempre namoro quando acaba o namoro. Só assim sei amar. E então te carrego no peito e em tudo, ao ir sozinha ou mal acompanhada ao cinema. E então janto com você e como bem e até bebo. E passamos sem perceber uma vida inteira. Só porque agora você se foi, é que sinto que você chegou de verdade. E assim namoramos tão bem e sou tão agradável. E é com você que vou até a esquina e o fim do mundo, porque posso tudo agora. Agora que não posso nada.
Oi tudo bom? Infelizmente, esta carta não é de quem você esperava. Mas, como eu sei direitinho como você se sente, talvez traga boas notícias.![]() |
| As pulseirinhas - SANA 2010 |